




ROSTOS DO SUL
EXPOSIÇÃO
''Os Mucubais''

A exposição "Rostos do Sul: Os Mucubais" integra uma série de exposições temporárias promovidas pelo Museu Regional da Huíla desde 2019, com o objectivo de divulgar a rica diversidade cultural do sul de Angola.
Esta edição é dedicada aos Mucubais, um subgrupo do povo Herero que, embora actualmente esteja disperso por outras regiões do país, estabeleceu-se inicialmente na actual província do Namibe, nas margens dos cursos inferiores dos rios Bero, Giraúl e Bentiaba.
Conteúdos
Organização Social
Os Mucubais são pastores seminómadas, cuja estrutura social baseia-se numa estrutura tribal em clãs matrilineares. As suas residências mais permanentes são as ongandas, núcleos habitacionais protegidos por cercas circulares de altura moderada, construídas com ramos de espinheiras. Pequenas construções em forma de pirâmede, feitas de madeira e cobertas de lama. Algumas habitações e tumbas dos cemitérios estão cobertas de cornos de vaca, estando o número de cornos estreitamente relacionado ao poder económico do defunto ou dono da cubata.O elemento central de uma onganda é o elao, espaço sagrado onde se invocam os ancestrais e se realizam rituais importantes para o grupo.


Economia
A base económica dos Mucubais assenta na criação de gado e na agricultura de subsistência. A riqueza de um indivíduo é tradicionalmente medida pelo número de cabeças de gado bovino que possui. A alimentação é baseada em frutos silvestres, leite e seus derivados, embora pratiquem agricultura de subsistência nas margens dos rios. A carne é reservada para ocasiões especiais, como festas de puberdade, empossamentos de autoridades ou rituais fúnebres de figuras importantes. prioritariamente para as crianças.
O gado caprino é frequentemente utilizado como moeda de troca com outros povos para aquisição de produtos aos quais não têm fácil acesso. O leite é muito apreciado pelos Mucubais e base da alimentação. Durante os meses de escassez de leite, de outubro a fevereiro, este é reservado.
É um povo que se recusa ao consumo de peixe em função de uma antiga tradição helelo segundo a qual, os seus antepassados foram mortos, atirados ao mar e os corpos comidos pelos peixes, esta teoria começou por volta de 1940. Por isso, desprezam os grupos que se alimentam de peixe, principalmente os macuisses.
De salientar que os Cuvales apresentaram desde cedo fortes noções de matemática e geometria. Isso fica patente na maneira como organizam e cuidam do gado; e também como projetam seus objectos diários no caso do heholo e do batuque. O seu sistema de numeração é associado a contagem por figuras e não símbolos ex: se for para escrever o n-3 eles desenham três pauzinhos no chão, não existe símbolos como nós os conhecemos

Cultura
Os Mucubais praticam rituais de puberdade que incluem a circuncisão dos rapazes, geralmente entre os 8 e 10 anos, e festas de iniciação para as raparigas. Um ritual complementar para os rapazes, realizado na idade adulta, autoriza-os a contrair matrimónio. Nesta cerimónia, pai e filho sentam-se ao lado do elao, onde o pai desfaz o cabelo do filho, formando uma grande trança untada com manteiga misturada com casca de árvore esmagada, simbolizando a passagem para a idade adulta.

As Mulheres Mucubal
As mulheres Mucubais destacam-se tanto pelas suas funções sociais quanto pela estética marcante. Utilizam adornos como otyhivela (tornozeleiras) e othingo (braceletes), além de uma corda ao redor dos seios. Para simbolizar status e em ocasiões especiais, como casamentos , usam um tocado único chamado ompota. Para cuidar da pele e do cabelo, aplicam óleo de mupeque, conferindo-lhes um brilho característico.
Usam chapéus ou turbantes de pele de carneiro, pulseiras e missangas que, além de adornos, simbolizam nobreza: pulseiras no braço direito indicam nobreza paterna, enquanto no esquerdo representam nobreza materna. As missangas multicoloridas simbolizam beleza, enquanto as de cor única representam poder espiritual.Para se diferenciarem de outros subgrupos, os Mucubais praticam uma mutilação dentária, limando os dois incisivos centrais superiores em forma de "V" invertido. As meninas, além disso, removem um dos dentes inferiores. Esta prática serve como identificação dentro do grupo.
As mulheres destacam-se nesta etnia tanto pelas tarefas que fazem, como pela sua estética que chama bastante atenção. As mulheres, usam jóias e outros adornos como Otyhivela (Tornozeleiras) e Othingo (brassaletes), bem como uma corda ao redor dos seios, feitas de planta, couro e plástico chamadas Oynduthi
Para simbolizar estatus e em ocasiões especiais como casamentos, as mulheres usam um tocado único chamado Ompota feito de uma estrutura leve de madeira coberta com pele de cabra na forma mais tradicional ou com tecido na forma mais moderna. São bastante “vaidosas” e preocupadas com a beleza; para cuidar da pele e do cabelo esfregam óleo mupeque.

Crenças
A sociedade Mucubal é profundamente animista, venerando os espíritos dos seus antepassados, conhecidos como Oyo Handi, embora estes sejam considerados inferiores à divindade suprema denominada Ndjambi. A espiritualidade dos Mucubais é profundamente enraizada na veneração aos espíritos ancestrais, observada através de rituais variados. Um dos mais significativos envolve o uso do gado sagrado, frequentemente conduzido pelo líder de uma pequena comunidade. Esses rituais reforçam os laços entre os vivos e os que já partiram, mantendo viva a memória e a sabedoria dos antepassados.
Nos rituais fúnebres, os túmulos são cobertos com cornos de vaca, sendo a quantidade de cornos directamente relacionada ao prestígio e poder do falecido. Este gesto simboliza respeito e reconhecimento pela importância do indivíduo na comunidade.

A figura do Kimbanda, o curandeiro tradicional, é central na cultura Mucubal. Acredita-se que ele possui a capacidade de comunicar-se com o mundo espiritual, sendo a adivinhação uma prática essencial para orientar decisões e curas.
Para protecção e bem-estar, os Mucubais utilizam amuletos como o Evelekesso, um objecto de forma geométrica feito de madeira, adornado com conchas e missangas. Este amuleto é colocado junto aos bebés para protegê-los contra enfermidades e influências negativas.

A arte é bastante notória, pois, são bos artesões de couro, fabricando sandálias, porta-bebés e bolsas de tabaco tanto para o uso próprio, quanto para a venda aos seus vizinhos. Usam bonitas pulseiras por eles fabricadas, tanto nas mãos quanto nos tornoselos.

Bibliografia
Estermann, C. (1983). Etnografia de Angola (Sudoeste e Centro) (Vol. II). Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical.
Jardim, M. N. (24 de Junho de 2011). Mandombes. Obtido de https://princesa-donamibe.blogspot.com/2011/01/povos-indigenas-dodeserto-do-namibe.html.
Sobba, A. C. (01 de Março de 2015). Actividades Culturais e a sala de aulas no grupo étnico Helelo do Sul de Angola (Subgrupo Mucubal e Muhimba).
Lúcio, A. C. (2019). DA ETNOMATEMÁTICA À MATEMÁTICA. Aplicações dos saberes e saberes fazer dos povos Mucubais e Himbas do sul de Angola-Namibe. Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.
Bueno, Aníbal e Riera, Jean (2021). Last Tribes of Angola. ExLibric-Espanha.
Ficha Técnica
Título Rostos do Sul “Os Mucubais”
Coordenação Angelina Sacalumbo
Texto Angelina Sacalumbo
Equipe Técnica
Ana Dembele
Marcelina Hiange
Filomena Chicuaia
Zengela Costa
Concepção Gráfica Bongue yo Tchivila
Fotografia Jessé Manuel
Edição Museu Regional da Huíla
Apoios Governo Provincial da Huíla, Movimento Lev'arte. Pepe Hatewa.


